Durante a fala, nesta terça-feira (30), Mauricio Adami, defesa, contou a versão de como os fatos da noite de 12 de agosto teriam ocorrido conforme a versão do sargento.
– A abordagem se deu em um primeiro momento de uma terceira pessoa que se encontrava na esquina da casa, essa pessoa é uma testemunha, essa pessoa foi ouvida perante o encarregado e os dois soldados se direcionaram em direção ao Gabriel e conversaram inicialmente com os moradores. Nesse momento é onde as moradoras afirmam que poderia ter ocorrido a agressão.
Adami também apontou incoerências nos depoimentos das testemunhas:
– São dois depoimentos dessas testemunhas, no primeiro há o relato de um tapa onde elas mencionam que teria ido ao solo o Gabriel. Numa outra versão requerida, elas estabelecem então o uso do bastão. O perito, quando traz o laudo, ele estabelece a causa em decorrência de uma lesão contudente.
O advogado ainda relatou que não há indícios de que a morte tenha sido instantânea, o que descartaria relatos de testemunhas que apontam que, após agressões, Gabriel teria sido colocado na viatura da BM desacordado e com o corpo rígido.
– Gabriel ingressa caminhando na viatura. Porém, é claro que apenas dois policiais aparecem (na imagem), motivo porque o sargento estaria mais afastado. Quando ele retorna para próximo da guarnição, ele vai dialogar com a testemunha que deu o relatou.
Quando questionado sobre o motivo de o 2º sargento Arleu Jacobsen não ter visto a agressão, que foi confirmada pela Polícia Civil no dia 26, o advogado disse que o sargento estaria abordando uma terceira pessoa, mais afastada, e que por isso não presenciou.
– Ao desembarcar da viatura, ao chegar no local, havia uma terceira pessoa mais afastada, perto de uma parada de ônibus. O sargento se direcionou até ela para a segurança do perímetro, como é comum. Portanto ele estava mais afastado e por algum momento ele permanece de costas para a ocorrência, ele permanece não visualizando a ocorrência. A conclusão do inquérito militar trouxe o crime de homicídio agitado pelo elemento do dolo eventual, ou seja, quando o agente assume o risco de resultado morte. Portanto, anui com essa conduta. O que a defesa vem dizendo desde o começo: o sargento Jacobsen não visualizou o momento das agressões, o que é corroborado por essa testemunha que estava na esquina porque ela também não viu.
Mauricio Adami ainda pontuou por diversas vezes durante a fala, que por a morte ter sido causada por uma hemorragia interna na região do pescoço – como ficou comprovado pelo laudo da necropsia –, o sargento Jacobsen não percebeu qualquer evidência de agressão, que também não teria sido apontada por Gabriel ou qualquer outra testemunha.
– Esse processo hemorrágico não leva a uma morte instantânea e as próprias testemunhas mencionam que o Gabriel apresentava sinais de embriaguez. Os policiais sentiram o hálito etílico, então talvez o caminhar um pouco mais vagaroso, uma desorganização de fala, que são consequências reflexas dessa lesão, levariam o sargento Jacobsen a não compreender a agressão.
Ainda de acordo com o advogado, Gabriel foi acomodado no porta malas da viatura e deixado na região do Lava Pé por vontade própria que após isso os PMs teriam deixado o jovem sozinho no local.
Entrevista completa ao CDN Entrevista, da CDN.
Procurada pela reportagem novamente nesta terça-feira, a advogada Vânia Barreto, que defende os PMs Raul Veras Pedroso e Cléber Renato Ramos de Lima, voltou a afirmar que não vai se pronunciar nesse momento, sobre o resultado do laudo e o indiciamento no Inquérito Policial Militar.
O caso
Gabriel Marques Cavalheiro, 18 anos, desapareceu por volta da meia-noite do dia 12 de agosto, no Bairro Independência, em São Gabriel. Segundo o relato de uma moradora, ela teria chamado a Brigada Militar (BM) após o jovem ter forçado a grade da casa dela e tentado entrar no local. Policiais foram até o endereço, abordaram, algemaram Gabriel e o colocaram no porta-malas da viatura. Depois disso, o jovem não foi mais visto.
O corpo dele foi encontrado dia 19 de agosto, em uma barragem na região conhecida como Lava pé. Os três policiais (Arleu Júnior Cardoso Jacobsen, Cleber Renato Ramos de Lima e Raul Veras Pedroso) que abordaram o jovem foram presos na sexta-feira (19) a noite e estão no presídio militar em Porto Alegre desde então. Eles já foram interrogados pela Polícia Civil e pela Justiça Militar.
Timeline Caso Gabriel de Diário de Santa Maria
Leia mais sobre o Caso GabrielLeia todas as notícias